Lá
estava eu, perdido naquelas quatro paredes cheias de bafio, já não sei a pensar
em quê. Lembro-me apenas de me aperceber que não havia ninguém para contestar
as minhas teorias sobre a matéria de electrónica. Acho que foi a vontade de sentir de novo
aquele companheirismo do professor, que é antagónico, eu sei, por ser aquele
professor, aquela pessoa, um antagonismo aprovado por a distância de idades e de
conhecimento. Mas ele tratou-me assim numa dessas aulas de tarde calor. Juro! E
o impulso que me fez perguntar
-Onde
é que ele anda?
a
meio da aula, julgo ter vindo desse episódio perdido no nosso convívio, sempre afastado
mas diário ao mesmo tempo.
E ele lá surgiu, entrando com prontidão no
laboratório, introduzindo com aquela voz nasalada e mastigada, que deve causar
irritabilidade a muitos ( porque a mim não causa, mas pelo tom desafinado e
agudo suponho) a sua presença.
-Então?
Já conseguiram fazer o exercício? -disse ele. E eu apanhei-lhe aquela sua tentativa
de fugir de si mesmo, de baixar as suas defesas, e tentar alcançar os alunos
com desafio e possibilidade de aprovação que têm como consequência: influência
em futuras notas académicas.
-Oh
professor eu tenho umas teorias, mas não sei se…-exclamei com uma careta, estimulado
pelo seu chamamento intelectual e humano de sintonia.
-Ok!
Quer vir ao quadro?...Venha ao quadro -e lá foi, sentindo todos os olhos centrados
em mim. Foi um momento diferente de todos aqueles que fui sentindo nesta nova
etapa da minha vida. Senti-me algo nervoso mas confiante na minha capacidade
intelectual que já tinha feito o aquecimento, que já estava pronta, a atacar
por todos os lados o problema e extrair a solução. Mas eu nunca fui um ser
deste gênero: um ágil intelectual; sempre fui ágil, mas fisicamente, assim como
a minha vontade. Dinâmico, flexível sim, com uma filosofia de pôr criatividade
em todas as coisas. Antecipei que poderia sentir- me confiante a ir ao quadro
mas não desta maneira; achei que poderia estar confiante em mim mesmo e que por
arrasto a autoconfiança em lógica matemática seria melhor. Mas não, a
autoconfiança na ciência do cálculo foi a chave, foi a chave!
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