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domingo, 10 de novembro de 2013

Indícios de Diário Pessoal: Dia 25-10-2013



Lembro-me. Entrei na sala de estudo do departamento, isolada no terceiro andar àquela hora tardia. Silêncio. É uma sala espaçosa com janelas largas onde se pode ver que a noite tomou posse do dia criando um estranho contraste entre a luminosidade interior e exterior. Como se mundos separados se tratassem. Noto a Rafaela, as gémeas e o Filipe encostados à parede na elevação como que num ponto estratégico de observação e resguardo, em superioridade (nem que seja de altura) e num valor de  estarem acomodados todos em grupo. Aproximo-me do Sardinha. E lhe digo, confiante e de forma espontânea, depois de excessivo contacto com pessoas:
-Olha, então já soubeste? -digo controlado, preparado para o surpreender.
-Não-responde, de olhar sereno e interrogativo, com a boca aberta e as sobrancelhas erguidas.
-O projeto foi adiado…
-O projeto foi adiado? - repete como se não tivesse ouvido bem. E nós a centímetros.
-Sim, foi! Estou te a dizer…
    Senti a gémea, que estava próxima, no extremo, a mirar-me. Desloco o meu olhar para a elevação e vejo o seu olhar incrédulo por trás dos óculos significantes, com a boca aberta também. Falamos. A Rafaela fala também comigo, e questiona-me. Olho para o grupo deles os quatro e divulgo a informação, apresentando argumentos significativos e verosímeis. Uma das gémeas, a que está longe de mim, e o namorado (o Filipe) vão falar com o professor e eu continuo a falar com a gémea e a Rafaela. Eu e tu Rafaela. Julgas que não sei das tuas notas brilhantes? Dessa tua inteligência escondida por detrás dessa tua postura, dessas tuas palavras. Tantas vezes os outros te chamam oca por aquilo que dizes e arrogante pela forma como caminhas. Bonita e arrogante.
E agora falas assim, como que em catadupa para mim, com palavras atrás de palavras num tom de protesto e de mulher pragmática que apenas vive nesse sentido.        

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