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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Sobre a valorização/desvalorização das coisas vizinhas...



Primo Levi: Se isto é um homem
Pág.26
Sabemos que, quanto a isto, dificilmente nos compreenderão, e é bom que assim seja. Mas considere cada um quanto valor, quanto significado está contido mesmo nos nossos mais pequenos hábitos quotidianos, nos nossos mil objetos que até o mendigo mais humilde possui: um lenço, uma velha carta, a fotografia de uma pessoa amada. Estas coisas fazem parte de nós, quase como se fossem membros do nosso corpo; não podemos sequer pensar em sermos privados delas, no nosso mundo, pois imediatamente encontraríamos outras para substituir as velhas, outros objectos que são nossos porquanto guardam e suscitam memórias nossas.
Imagine-se agora um homem ao qual, juntamente com as pessoas amadas, tiram a casa, os hábitos, a roupa, enfim, tudo, literalmente tudo quanto possui: será um homem vazio, reduzido ao sofrimento e à carência, esquecido da dignidade e bom senso, pois acontece facilmente, a quem tudo perdeu, perder-se a si próprio; reduzido a tal ponto, que outros poderão sem problemas de consciência decidir a sua vida ou da sua morte para além de qualquer sentido de afinidade humana; no caso mais optimista, na base de uma mera avaliação de utilidade. Compreender-se-á então o duplo significado da expressão <>, e será claro o que entendemos exprimir com esta frase: jazer no fundo.



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