Lembrando a pág.186.
"Mas eis que há algum tempo, quando eu percorria a
Baixa por uma tarde de sábado, vi no passeio fronteiro, avançando para mim, uma
estranha e bela rapariga que nunca vira e que no entanto eu conhecia desde não
sabia quando. Vestia de cinzento, direita e coleante com um fortíssimo desejo
calmo. Uma quente humidade inchava devagar nas suas curvas solenes e uma branda
avidez dilatava-se enormemente no seu maravilhoso olhar. A cada passo que dava
estremecia nela a presença harmoniosa da sua plenitude; e de uma vez que sorriu
para alguém, de olhos líquidos e transversais, suave aroma de perfeição e de
dádiva desprendeu-se dela lentamente com duas mãos estendidas. Fiquei ali
estarrecido com a súbita revelação de uma esperança que perdera. Porque eu
conhecia aquela mulher revelada, mas donde? e desde quando?"
Assim a tenho seguido vezes sem conto, receoso de lhe falar,
quase receoso de a ver. É impossível que ela me tenha esperado como eu, porque
sei bem que a amo desde sempre. Quantos destinos, nesta cidade grande, se
cruzam desencontrados - quantos terão sido erradamente do seu!"
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