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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Anna Karénina

Anna Karénina
“Essa primeira querela deu-se porque Lévin se deslocou à nova granja e demorou mais meia hora do que esperava, porque quis passar pelo caminho mais curto e se perdeu. Ao voltar para casa só pensava nela, no amor dela, na sua felicidade, e quanto mais se aproximava mais se inflamava nele a ternura por ela. Entrou a correr no quarto com o mesmo sentimento, ainda mais forte, com que chegou a casa dos Scherbátski para fazer o pedido de casamento. E de repente foi recebido com uma expressão sombria como nunca vira nela. Quis beijá-la, mas ela rejeitou-o.
-Que tens tu?
- Estás muito alegre…-começou ela, desejando ser calma e venenosa.
Mas assim que abriu a boca, logo as palavras de censura ditadas por um ciúme insensato, tudo aquilo que a atormentava durante aquela meia hora que passara imóvel sentada à janela, lhe escaparam. Só então ele compreendeu claramente, pela primeira vez, aquilo que não compreendia quando, depois do casamento, a conduzia para fora da igreja. Compreendeu não apenas que lhe era muito próxima, mas também que agora não sabia onde acabava ela e começava ele. Compreendeu isso pelo doloroso sentimento de divisão que experimentou naquele momento. No primeiro instante teve o sentimento de um homem que, recebendo um forte golpe nas costas, se vira com enfado e um desejo de vingança para descobrir o culpado, e se convencer de que foi ele próprio por descuido, que não tem com quem se zangar e deve suportar e aliviar a dor.”

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